terça-feira, 3 de abril de 2012

Sociolinguística

Sociolingüística é a ciência que estuda a língua da perspectiva de sua estreita ligação com a sociedade onde se origina. Se para certas vertentes da lingüística é possível estudar a língua de forma autônoma, como entidade abstrata e independente de fatores sociais, para a sociolingüística a língua existe enquanto interação social, criando-se e transformando-se em função do contexto sócio-histórico.

Desenvolvida em grande parte por William Labov (1969, 1972, 1983), a sociolingüística permitiu o estudo científico de fatos lingüísticos excluídos até então do campo dos estudos da linguagem, devido a sua diversidade e conseqüente dificuldade de apreensão. Através de pesquisas de campo, a sociolingüística - inspirada no método sociológico - registra, descreve e analisa sistematicamente diferentes falares, elegendo, assim, a variedade lingüística como seu objeto de estudo.

A sociolingüística estuda a variedade lingüística a partir de dois pontos de vista: diacrônico e sincrônico. Do ponto de vista diacrônico (histórico), o pesquisador estabelece ao menos dois momentos sucessivos de uma determinada língua, descrevendo-os e distinguindo as variantes em desuso (arcaismos). Do ponto de vista sincrônico (mesmo plano temporal), o pesquisador pode abordar seu objeto a partir de três pontos de vista: geográfico (ou diatópico), social (ou diastrático) e estilístico (contextual ou diafásico).

A perspectiva geográfica é horizontal, ou seja, implica o estudo dos falares de comunidades lingüísticas distintas em espaços diferentes, mas em um mesmo tempo histórico. Os dialetos ou falares dessas comunidades produzem os regionalismos. Os estudos de caráter geográfico distinguem uma linguagem urbana - cada vez mais próxima da linguagem comum - de uma linguagem rural, mais conservadora, isolada, em gradual extinção devido em grande parte ao avanço dos meios de comunicação, que privilegiam a fala urbana.

A perspectiva social é vertical, ou seja, implica o estudo dos falares de diferentes grupos dentro de uma mesma comunidade. Os falantes são agrupados principalmente por nível sócio-econômico, escolaridade, idade, sexo, raça e profissão. Desta perspectiva, observa-se e analisa-se a distinção entre um dialeto social/culto (considerado a língua padrão) - que é preso à gramática normativa, é a língua ensinada nas escolas e está em estreita conexão com o uso literário do idioma e com situações de fala mais formais - e um dialeto social/popular (considerado subpadrão) - mais ligado à linguagem oral do povo e às situações menos formais de comunicação.

Sob a perspectiva estilística, por sua vez, o pesquisador estuda o uso que um mesmo falante faz da sua língua. Considera que o falante realiza suas escolhas influenciado pela época em que vive, pelo ambiente, pelo tema, por seu estado emocional e pelo grau de intimidade entre interlocutores. Tais fatores determinam a escolha do registro (ou nível de fala) a ser utilizado pelo falante quanto a: grau de formalismo (uso mais ou menos formal da língua); modo (língua falada ou escrita); e sintonia (maior ou menor grau de tecnicidade, cortesia ou respeito à norma, tendo-se em vista o perfil do interlocutor).

Bibliografia



LABOV, W. “Social stratification of English”. Language 45: 315-29, 1969.

--------------.Sociolinguistic patterns. University of Pennsylvania Press, Philadelphia, 1972.

--------------. “Language structure and social structure”. Trabalho apresentado na Conference on Qualitative and Quantitative Approaches to Social Theory, Chicago, Nov. 1983.

MARCELLESI, J.B. e GARDIN, B. Introdução à sociolingüística. Lisboa, Aster, 1975.

PRETI, D. Sociolingüística. São Paulo, Edusp, 1994.

TARALLO, F. A pesquisa sociolingüística. São Paulo, Ática, 1985.

TRUDGILL, P. Sociolinguistics: an introduction. Great Britain, Penguin Books, 1974.

Fonte: http://www.edtl.com.pt/index.php?option=com_mtree&task=viewlink&link_id=294&Itemid=2

OSGÊMEOS

Boa noite, gaelra!
O plano de fundo do blog é em homenagem aos grafiteiros Osgemeos.

Biografia

Osgemeos por Ana Carolina Ralston
(1974 - São Paulo, Brasil)
Destas duas mentes transbordam todas as cores e sabores da imaginação. Lá tudo é possível e qualquer sonho se torna realidade. A inspiração para tantos desenhos e fábulas mágicas vem da forma com que a dupla Gustavo e Otávio Pandolfo, conhecidos como OSGEMEOS,refletem em seu interior a realidade e a fantasia que lhes rodeiam. Cada pequeno detalhe, porque são através deles que suas obras assumem esta forma já tão reconhecível, são componentes importantes na criação do mundo fantástico, cheio de histórias cotidianas em forma de poesia. O mundo encantado em que vivem todos os seus personagens e que funciona como a janela da alma única dos irmãos gêmeos é repleto de uma mistura harmoniosa entre realismo e ficção. Suas histórias dançam entre dois importantes pilares. O olhar sonhador que possibilita a materialização de um mundo cheio de fantasias e suas críticas incisivas sobre as dificuldades enfrentadas por tantos cidadãos espalhados pelo mundo,vitimas de um modelo socioeconômico que se encontra em grande transformação. Dessa união nascem obras que invocam um universo lírico e criações que mesclam ambas projeções, como se os próprios personagens mágicos criticassem com olhos inocentes toda a discrepância que existe nesta sociedade.

Foi quando ainda viviam no mundo da fantasia ingênua e infantil, que tudo começou. Desde pequenos a maneira de brincar e construir os cenários onde seus personagens habitavam era minuciosa. Desmontado as peças originais de presentes que ganhavam, os irmãos refaziam com toda a delicadeza um outro universo. Com três anos de idade os lápis de cor e a imaginação já estavam presentes nos jogos e em todos os papeis espalhados pela casa. Desenhavam na mesma folha de papel e quando não, escolhiam os mesmo temas para ilustrar. O incentivo para mergulhar no mundo criativo que existia dentro deles sempre esteve presente na família, composta de outros artistas, como o irmão mais velho Arnaldo e a mãe Margarida. Também foram o pai e os avós que trouxeram a tona uma forma de apresentar ao mundo real toda a ânsia criativa que lhes transbordava.
O graffiti entrou na vida dos irmãos em 1986, quando ainda viviam na região central de São Paulo onde passaram sua infância e adolescência. A cultura hip hop chegava ao Brasil e os jovens do bairro começaram a colorir suas idéias nos muros da cidade. Naquela época, com apenas 12 anos, tudo era novidade e sem ter de onde tirar suas referencias, Gustavo e Otavio improvisavam e inventavam sua própria linguagem, pintando com tintas de carro, látex, spray e usando bicos de desodorante e perfume para moldar seus traços; já que ainda não existiam acessórios e produtos próprios para a prática. O que a cidade proporcionou a eles foi essencial para o desenvolvimento de todas as habilidades que se transformaram depois no estilo próprio e imediatamente reconhecível dos artistas. Uma infância criativa, que rendeu duas vidas ao mundo da arte contemporânea.
O graffiti atuou sempre como uma válvula de scape para a dupla. Uma maneira que encontraram de criar um mundo onde só se pode penetrar através de suas mentes e onde tudo funciona pela lógica própria de Tritrez, o universo habitado pelos personagens amarelos, onde brilha e reina a sintonia entre todos os seus elementos. Cada parte e cada detalhe esta mergulhada na magia que envolve a imaginação dos irmãos.
Novos ventos começaram a sobrar em 1993 com a visita ao Brasil do artista plástico e grafiteiro Barry Mgee (Twist), de São Francisco. Mgee que chegou em São Paulo para realizar uma exposição de arte contemporânea mostrou aos irmãos a possibilidade de viver fazendo o que se gosta. Nesta época por diversão Gustavo e Otavio, que acabavam de completar 19 anos, já haviam começado a desenvolver um estilo próprio e a fazer trabalhos publicitários e decoração em lojas e escritórios com seus graffitis. Começavam desta forma a viver única e exclusivamente deste maravilhoso dom que ocupava quase 100% de seus seres.
Em 1995, como experimento, realizaram uma exposição conjunta sobre arte de rua no MIS – Museu da Imagem e do Som – de São Paulo e um ano depois uma pequena mostra de algumas peças e instalações em uma casa na Vila Madalena.
Mas a vida como artistas plásticos com o estilo já quase completamente maduro aconteceu pouco tempo depois em Munique (Alemanha) a convite de Loomit, grande nome do mundo do street Art que descobriu a dupla brasileira em uma revista internacional sobre o tema. Com este convite, a dupla embarcou em uma viagem sem volta pelo mundo realizando projetos em parceria com outros artistas e finalmente em 2003 a primeira exposição solo na galeria Luggage Store , em São Francisco.

Um grande salto veio quando os artistas entraram para a galeria Deitch Projects de Nova York em 2005, onde suas obras tomaram forma dentro do mercado de arte contemporânea. No momento em que ingressaram para o universo das galerias, a dupla pode trazer suas criações para um mundo muito além das ruas. Com isso, suas idéias tomaram formas tridimensionais em esculturas e instalação feitas de maneira peculiar com todos os elementos e detalhes que se podem acrescentar quando um desenho pula do papel e chega ao mundo real. Apenas depois de um ano, já com um nome forte no exterior, OSGEMEOS fizeram sua primeira exposição no Brasil na Galeria Fortes Vilaça, em São Paulo.
A pintura feita nas ruas e as criações feitas para obras e instalações em galerias partem do mesmo mundo onírico que existe dentro da mente da dupla, mas tomam rumos distintos. A primeira é o próprio dialogo dos artistas com as ruas, com cada pessoa que passa e de forma direta ou indireta interage com a pintura, isso é o graffiti. A segunda é a materialização de sonhos, ideais, criticas sociais e políticas que retratam o universo vivido dentro em contraste com que se apresenta fora no dia-a-dia dos próprios irmãos. No momento em que todas estas idéias entram dentro de uma galeria elas deixam de pertencer ao graffiti e passam a fazer parte do mundo que envolve a arte contemporânea.

A imaginação são as asas que osgemeos utilizam para ir aos mais divertidos e ilusórios lugares que habitam suas mentes. É a porta aberta e o convite para mergulhar no humor e nas delicias de poder criar um mundo da nossa própria maneira e com todas as cores e fantasias que se possa imaginar.

Fonte: http://osgemeos.com.br/index.php/biografia/



terça-feira, 6 de março de 2012

POEMA EM LINHA RETA

Quem não conhece alguém que adore contar vantagens, propagar suas glórias e bem feitos, porém, jamais fala sobre uma derrota, uma decepção ou até mesmo um erro, ou seja, esse ser deseja passar uma imagem de Pessoa Perfeita! Então, para esses semideuses, uma dose de Fernando Pessoa.

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

Álvaro de Campos

O Planalto e a Estepe

Assim é o amor.
O nome é pesado e nem sempre corresponde à realidade. Os documentos tratando dele devem ocupar uma cidade inteira e no seu todo há ambiguidades. alguém sabe mesmo o que o amor é?

Pobre é o amor
Que pode ser contado (Shakespeare apud Pepetela)

[...] Passamos a vida a tentar descobrir, alguns vivem mesmo só para o encontrar. Já sem falar nos escritores, que fizeram dele o tema inesgotável para poemas e romances. Uns tantos apenas no fim da vida pecebem nunca com ele terem cruzado, para além dos inevitáveis equívocos. Outros, pelo contrário, descrentes de tudo desde a mais tenra idade, se surpeendem no leito da morte a sonhar com a menina que afinal preencheu as suas vidas. Na maior parte dos casos, leva-se a verdade para a tumba.
Se verdade houver.
Que há de verdade no amor?
A mesma verdade que existe na verdade. Se consome pelo uso. Ou se reforça pela ausência. Ou nem uma coisa nem outra. O mistério permanece e nos espanta sempre.
Para quê então falar no que não se pode perceber? (In: O PLANALTO E A ESTEPE - Pepetela)

Amigos, o amor não é o tema central da obra, mas sim a questão histórica, o movimento de libertação angolano, o racismo manifestado de diversas formas. O autor expõe a "hipocrisia" de alguns discursos ideológicos que são uma coisa na teoria, porém, na prática é totalmente diferente. Vale a pena ler, o livro é maravilhoso.





Cícero Dias

Boa Noite, galera.
Já faz alguns meses que não postamos nada por aqui, mas garatimos que o blog será mantido e atualizado sempre que possível. O plano de fundo dessa semana é em homenagem ao artita Cícero Dias, espero que todos gostem! Beijos


Jundiá, PE, 1908 -
Artista brasileiro de grande renome internacional, Cícero Dias combina as mais genuínas tradições pernambucanas com a essência universal da arte. Sempre adotando posições vanguardistas, participa do movimento modernista brasileiro, aproxima-se do surrealismo e é um dos pioneiros dos Abstracionismos no pós-Segunda Guerra. Utilizando-se das cores tropicais, inspiradas pelo "verde canavial", "vermelho sangue-de-boi" e "azul céu sertanejo", ficou conhecido desde cedo como o "Pequeno Chagall dos Trópicos". Sua obra prima principalmente pela combinação inusitada de elementos aparentemente contraditórios, que são dispostos pelo artista de forma única e original.

Neto de senhor de engenho, Cícero passa a infância descobrindo a vida na terra, as brincadeiras e os sonhos de criança. Ainda menino, vai estudar em Recife; mas é no Rio de Janeiro, onde está a partir de 1920, que o pintor começa a ter contato com o movimento modernista. Estuda arquitetura por três anos, trocando este ofício pela pintura em 1928, ano em que realiza sua primeira exposição. Embora não tenha participado da Semana de 22 devido a sua pouca idade, Cícero é logo reconhecido como membro do grupo, recebendo elogios de nomes como Di Cavalcati, Ismael Nery, Murilo Mendes, Oswald de Andrade, entre outros. Em seus primeiros trabalhos, o pintor é tido como pioneiro do surrealismo no Brasil, mesmo sem ter recebido influência direta deste estilo, principalmente pela abordagem do universo da juventude, como as paixões, o carnaval e o sonho. Em 1929, juntamente com Gilberto Freyre e Manuel Bandeira, organiza em Recife o I Congresso Afrobrasileiro, evento comparado ao de 22 pela sua repercussão, consolidando o movimento modernista em Pernambuco. Dois anos mais tarde, participa também do I Salão de Arte Moderna, ao lado de Lúcio Costa, onde causa enorme polêmica com o painel "Eu vi o mundo... Ele começava no Recife". Devido as cenas de nudez e erotismo, esta obra foi parcialmente depredada pelo público.

Em 1937, Cicero se fixa em Paris, cidade em que passará a maior parte de sua vida. Uma vez na França, o pintor entra em contato com surrealistas, especialmente Paul Eluard e Pablo Picasso. Com este último, estabelece um forte laço de amizade que possibilita, anos mais tarde, a vinda do famoso Guernica para a Bienal paulista de 1953. Preso pelos nazistas durante a ocupação da França, o pernambucano só retorna a Paris depois de um apelo do amigo. Eluard compara Cícero e Picasso dizendo que ambos combinavam a herança de sua terra natal com a realização de uma arte de entendimento mundial.

Durante a década de 40, o pintor se aproxima dos abstracionistas, especialmente dos seguidores da vertente geométrica, e se torna pioneiro deste estilo. Integra-se ao grupo da Galeria Denise-René, juntamente com Victor Vasarely, Serge Poliakoff e outros. Suas obras do período valorizam a geometria e a abstração, mas mantém o lado lírico e regional, principalmente na escolha das cores tropicais. Entre os anos de 1946 e 1948 realiza em Recife o primeiro mural abstrato da América Latina, no mesmo período em que os muralistas mexicanos pregavam a revolução em seu país. Dentro da polêmica estabelecida entre a arte abstrata e a arte realista revolucionária, o artista provoca, mostrando que não há incompatibilidade entre consciência política e não-figuração.

A partir dos anos 60, o artista retoma a figuração e a sua temática inicial. A valorização da mulher, símbolo constante na obra de Cícero, remete a sexualidade e ao universo do inconsciente. O último dos modernistas vivo, passa pelos mais diversos estilos artísticos do século XX, mas sempre valorizando a tentativa modernista de combinar os elementos nacionais com uma linguagem universal e vanguardista.

Fonte: http://www.mac.usp.br/mac/templates/projetos/seculoxx/modulo2/modernismo/artistas/cicero/index.htm

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Língua Portuguesa - Olavo Bilac

Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura;
Ouro nativo, que, na ganga impura,
A bruta mina entre os cascalhos vela...

Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço e o teu aroma
De virgens selvas e de oceanos largos!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

Em que da voz materna ouvi: "meu filho!"
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!

domingo, 18 de dezembro de 2011

ERRO DE PORTUGUÊS NÃO EXISTE

Escritor e lingüista denuncia o preconceito lingüístico e considera absurdo dizer que os brasileiros não sabem português

Flávio Lobo - Revista EDUCAÇÃO, n.º 26 -julho de 1999

O brasileiro sabe o seu português, o português do Brasil, enquanto os portugueses sabem o português deles. Nenhum dos dois é mais certo ou mais errado, mais feio ou mais bonito: são apenas diferentes um do outro."Nesse trecho de seu livro Preconceito lingüístico: o que é, como se faz, Marcos Bagno ataca a crença segundo a qual "brasileiro não sabe português e só em Portugal se fala bem português". Esse "mito" seria um dos pilares do que ele chama de "mitologia do preconceito lingüístico" – um conjunto de crenças equivocadas, responsável pela má qualidade e ineficiência do ensino do português nas escolas e pela dificuldade que muitos brasileiros têm no trato com a língua materna.

Para Bagno, o "erro de português" que amedronta, intimida e humilha tanta gente, simplesmente não existe. Haveria, na verdade, diferentes gramáticas para diferentes variedades do português. Cada uma delas perfeitamente válida em seu contexto. Todas merecedoras de respeito. Autor de livros para crianças, jovens e adultos, incluindo ficção e obras sobre língua e literatura, Bagno, que tem 44 anos, também é tradutor. Formado em Letras, com mestrado em Lingüística, fez doutorado em língua portuguesa na USP.

Desde a graduação, ele se interessou pela sociolingüística – disciplina que estuda as relações entre língua e sociedade – e pela revisão dos conceitos de "norma culta", "norma padrão", do que é certo e errado na língua. Estudos e revisões que, segundo ele, não têm sido acompanhados por muitos dos que se apresentam como especialistas no debate sobre o ensino e a situação da língua portuguesa no Brasil.De acordo com Bagno, existe uma "briga" entre dois grupos no campo das questões lingüísticas e gramaticais. Um é composto por lingüistas, verdadeiros especialistas no assunto. O outro seria o dos "puristas", defensores de uma tradição gramatical dogmática e anticientífica

"As pessoas que falam e escrevem sobre a língua na mídia em geral são jornalistas, advogados ou professores de português que não estão ligados à pesquisa, não participam do debate acadêmico, não estão em dia com as novas tendências da Lingüística – são os que eu chamo de gramatiqueiros", critica Bagno. Para ele, esses "pseudo-especialistas", ao tentar fazer as pessoas decorarem regras que ninguém mais usa, estariam vendendo "fósseis gramaticais", fazendo da suposta dificuldade da língua portuguesa um produto de boa saída comercial.Outro "mito" tratado no livro Preconceito lingüístico: o que é, como se faz é a idéia, bastante difundida, de que a língua portuguesa é difícil. Bagno afirma que a dificuldade de se lidar com a língua é resultado de um ensino marcado pela obsessão normativa, terminológica, classificatória, excessivamente apegado à nomenclatura. Um ensino que parece ter como objetivo a formação de professores de português e não a de usuários competentes da língua. E que ainda por cima só poderia formar maus professores, já que estaria baseado numa gramática ultrapassada, que não daria conta da realidade atual da língua portuguesa no Brasil.

Ele acredita que se, em vez disso, os professores se concentrassem no que é realmente importante e interessante na língua, se ajudassem os alunos a desenvolver sua capacidade de expressão e reflexão, não haveria tanta gente – depois de anos e anos de estudo – em pânico diante do desafio de escrever uma pequena redação no vestibular.

As críticas que faz à gramática tradicional não devem ser confundidas com um "vale tudo" lingüístico, explica Bagno. "No campo da língua, na verdade, tudo vale alguma coisa", assegura o escritor. Mas esse valor dependeria do contexto, de "quem diz o quê, a quem, como, quando, onde, por que e visando que efeito".Quanto ao ensino nas escolas, diz ele, a norma culta deve mesmo ser o principal objeto de estudo. O problema estaria na definição da norma culta a ser ensinada.

A "norma culta idealizada", que só existiria nas gramáticas, deveria ser deixada de lado para dar lugar à norma culta real – identificável na fala e na escrita atual da população culta do país.As diferenças entre a norma culta das gramáticas tradicionais e a norma culta real, de acordo com Bagno, não são tão grandes. Elas parecem mais freqüentes e profundas, segundo ele, por causa do esforço feito pelos "gramatiqueiros" para preservar seus "dinossauros lingüísticos". "Bastaria eles tirarem as teias de aranha da cabeça para verem que a língua portuguesa não se desintegraria caso eles a deixassem livre para seguir seu curso", ironiza.

Interpretação – Falando das regras que vão contra a evolução natural da língua portuguesa no Brasil, Bagno cita casos como o do verbo assistir: "O professor pode repetir mil vezes que assistir é transitivo indireto, que o aluno sai da aula e diz que vai assistir o filme em vez de assistir ao filme. Muitos jornalistas, por exemplo, que se esforçam para escrever e falar ‘certo’ dizem que um milhão de pessoas assistiram ao filme, mas logo se traem ao dizer que o filme foi assistido por um milhão de pessoas – sendo que um verbo transitivo indireto não admitiria essa forma passiva.

"Outro exemplo seria o famoso se de vendem-se casas. Para Bagno, os brasileiros interpretam esse se não como uma partícula apassivadora, mas como índice de indeterminação do sujeito. Uma interpretação, assegura ele, perfeitamente razoável e legítima. "Eu mesmo, em meus livros, só escrevo vende-se casas, ensina-se matérias e não deixo os revisores ‘corrigirem’.

Desuso – Ele também não vê como erro, mesmo para quem pretende se expressar na norma culta, formas como vi ele em vez de o vi e a substituição dos pronomes seu e sua por dele e dela sempre que se referem a ele ou ela. "O brasileiro só usa seu e sua, com naturalidade, para dizer que algo pertence a você.

"Outras formas, há muito em desuso, como o pronome vós, na visão de Bagno deveriam entrar na sala de aula apenas como uma curiosidade da história da língua, mencionadas como algo que os estudantes vão encontrar em textos antigos. "Não deveriam mais ser cobrados como parte do conhecimento ativo, prático, dinâmico da língua."Para que a língua seja ensinada de forma dinâmica, prazerosa e eficaz, precisaria ser entendida pelos professores como algo vivo em constante processo de evolução – e não de corrupção. Os professores de português precisariam ter uma postura similar à de um professor de biologia ou física, "que sabe perfeitamente que muito do que ele está ensinando hoje pode ser reformulado ou mesmo negado amanhã", defende Bagno.

Também é necessário, segundo ele, que o trabalho de identificação e descrição da norma culta brasileira atual, que está sendo feito por meio das pesquisas universitárias, sirva como base para a elaboração de gramáticas dirigidas ao ensino escolar e aos falantes da língua em geral. "É um trabalho que eu mesmo quero começar a fazer quando terminar o doutorado", planeja.Bagno considera indispensável o incentivo ao uso da norma culta, especialmente nas manifestações lingüísticas de maior importância e alcance sociocultural e nas que visem a comunicação entre as diferentes regiões do país. Mas, como escreveu no livro Preconceito lingüístico, "esse incentivo não precisa vir acompanhado do desdém, do menosprezo, da ridicularização das outras inúmeras normas lingüísticas que existem dentro do universo brasileiro da língua portuguesa."- -

(in revista Educação, Segmento, São Paulo, p. 26-28, julho de 1999)

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Blog desenvolvido pelas alunas da UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SANTOS do curso de Letras: Port./Ing. - 6º semestre. Orientado pela Profa. Me. Ermelinda Maura Chezzi, na disciplina de LInguagens e Novas Tecnologias II. Alunas Responsáveis: Agnes Cássia, Fernanda Oliveira, Lucilene Amorim e Mariana Azambuja - O QUARTETO LITERÁRIO.