quarta-feira, 26 de outubro de 2011

LITERATURA EM MOÇAMBIQUE

Por Mary Azambuja e Fernada Oliveira. Trabalho publicado na exposição sobre Moçambique, da Semana de Letras da UNISANTOS, como parte avaliativa da disciplina de Literatura Portuguesa da Prof. Rosa Maria.





Ao se falar de literatura Moçambicana devemos pensar nela em antes e depois da colonização portuguesa. Basicamente, a literatura do antes era tradicionalmente oral. Deve-se compreender, porém, que tanto para Moçambique, quanto para a maior parte da África, a literatura como meio de transmissão do conhecimento, pois a mesma era utilizada como meio de socialização e com cunho pedagógico. A palavra é a tradição viva, é mágica, é força e verdade e, segundo Hampaté Bâ[1], a mentira é a morte social do homem, pois a palavra veio do divino, tem o poder criador, destrutor ou mantenedor das forças que equilibram o universo. Ao mentir o homem viola a parte sagrada dentro de si, se tornando indigno e impuro de realizar qualquer tarefa tradicional (atividades cotidianas) e de socializar com os demais. Não há separação da vida cotidiana, da agricultura, das ciências naturais, do religioso ou místico, tudo está interligado.

Passado de pai para filho, de mestre a discípulo, geração a geração, as histórias, lendas, mitos, etc, que eram usadas para educar, foram aos poucos substituídas / oprimidas pela cultura imposta pelos portugueses, bem como a língua e religião aos poucos foi se mesclando com a do povo nativo.


Um exemplo de tradição oral são as poesias de Msaho[2], compostas pela dança, o ritmo das Timbilas[3] e a recitação de versos, não tendo o mesmo sentido se não for com a união desses três elementos culturais.


Após a colonização, a literatura Moçambicana passa a buscar a denúncia e o retrato de uma sociedade a margem dos colonizadores. Misturando a língua portuguesa com dialetos nativos, encontramos, principalmente na poesia, vários poemas ligados a questão social.


A literatura passa por momentos entre a repressão cultural, opressão, resistência, luta e revolta fazendo seu papel de registro da história através das palavras, dessa vez já escrita, mesmo que a maior parte da população, ainda hoje, seja analfabeta.


Poetas e jornalistas se misturam em suas funções. Relatar e denunciar através de olhos poéticos e metáforas, além de palavras que só quem vivencia Moçambique seria capaz de compreender, quando a voz do jornalista era calada a força.


Jornais como O Brado Africano (1918) e Itinerário (1941), contribuíram com a literatura que há hoje em Moçambique por abrigarem alguns dos maiores escritores e poetas, entre eles José Craveirinha (1922 – 2003) e Noémia de Sousa (1927 – 2002). Outros nomes colaboraram em diversos periódicos ou com publicações diversas, podemos citar Rui Nogar (1932 – 1993) e Luis Bernardo Honwana (1942 -). O nome mais conhecido atualmente da literatura Moçambicana é de Mia Couto, tanto pela prosa quanto poesia, traz a tona novos tons e formas a literatura de seu país, principalmente ao “brincar” com a própria língua (portuguesa e dialetos – há aprox. 244, sendo os principais: ronga, changã e muchope). Em um país que há mais de 40% de analfabetos, Mia Couto diz que a fronteira não é entre o analfabetismo e o alfabetismo, mas sim entre o universo da escrita e o da oralidade.


“(...) o universo da oralidade não é uma coisa menor, é uma grande escola, é um outro sistema de pensamento. E é neste sistema de pensamento que eu aprendi aquilo que é mais importante hoje para mim. “ [4]


A maneira como Couto escreve denota este tom oral que há na forma de contar suas histórias, em poemas ou em prosa, para crianças e adultos, mostrando uma nova tendência: a de retorno as suas raízes orais.






[1] HAMPATÉ BÂ, A. 8 – A tradição viva. In: KI-ZERBO, J. (coord.) História Geral da África I – Metodologia e pré-história da África. São Paulo: Ática; Paris: UNESCO, 1982.


[2] Junção da poesia oral e cantada com os sons e danças ligadas a Timbila, dura aproximadamente 45 minutos e pode ser dividida entre 9 a 11 movimentos. Ligada a tradição do povo Chope, localizados ao Sul de Moçambique, principalmente na província de Inhambane, quase sempre fala sobre os deveres sociais do povo que está subjugado pelo estrangeiro, fazendo criticas as autoridades e usando da mistura da língua nativa e da Portuguesa. É considerada em sua maior parte como literatura oral, apesar de haver alguns poemas escritos também.


[3] Espécie de Marimba (Instrumento de percussão) - patrimônio da humanidade devido ao nível artístico da música e dança e a própria forma de fabricação desse instrumento.

[4] Entrevista disponível em: http://www.macua.org/miacouto/MiaCoutoexerciciodahumildade.htm .Acesso em: 16/09/2011 - 15h30.

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Blog desenvolvido pelas alunas da UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SANTOS do curso de Letras: Port./Ing. - 6º semestre. Orientado pela Profa. Me. Ermelinda Maura Chezzi, na disciplina de LInguagens e Novas Tecnologias II. Alunas Responsáveis: Agnes Cássia, Fernanda Oliveira, Lucilene Amorim e Mariana Azambuja - O QUARTETO LITERÁRIO.