quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Análise do conto "Bliss" de Katherine Mansfield

Trabalho realizado para a disciplina de Literatura Inglesa da Prof. Rosicler, da UNISANTOS, para o 2º semestre do curso de Letras.





Katherine Mansfield nasceu em 14 de outubro de 1888, em Wellington, Nova Zelândia. Filha de pais ingleses, de 1903 a 1906 estudou na Inglaterra. Voltou a Wellington, onde exerceu atividade literária principiante. Convenceu seu pai a continuar seus estudos na Inglaterra, para lá retornando em 1908. Faz e desfaz no mesmo dia um casamento, em março de 1909, em Londres. Fica grávida, já em outra ligação amorosa. Passa uma temporada na Alemanha com sua mãe, e em junho sofre um aborto. Volta a Londres em 1910 e um ano depois publica In a German Pension, seu primeiro volume de contos. Em meio a uma conturbada vida afetiva, sexual e social, vê seu irmão morrer, em 1915, durante a guerra. Surgem os primeiros acessos de tuberculose. Em 1918 publica seu segundo volume de contos: Prelude. Em 1920, outro volume: Je Ne Parle Pas Français. Em 1921, Bliss and Other Stories. Em 1922, The Garden Party and Other Stories. Com o agravamento da tuberculose, tenta tratar-se na Suíça, em 1922. Morreu no dia 09 de janeiro de 1923, aos 34 anos de idade. Sua consagração ocorreu após a morte. Teve mais de dez títulos póstumos, entre relatos curtos, cartas e diários. Hoje é considerada um dos maiores nomes da literatura inglesa. Dela disse Virginia Woolf, que a considerava o maior nome de contista na língua inglesa: "eu tinha ciúme do que ela escrevia".



Disponível em: http://www.releituras.com/kmansfield_bliss.asp . Acesso em: 16/11/2009 - 23:45





Análise do conto “Bliss” de Katherine Mansfield:



Conto narrado em 3ª pessoa e expressão de pensamentos e diálogos em 1ª pessoa. Bliss é uma palavra em Inglês que não há uma tradução correspondente para o português, assim como a nossa “saudade” não há correspondentes em outras línguas, e dá a idéia de êxtase, felicidade absoluta, mas, ainda que não seja bem isso, ficarei com o termo Felicidade, por ser o mais próximo correspondente. 

O conto narra o estado de absoluta e inexplicável Felicidade de Bertha Young. Sua tentativa de explicar a si mesma a razão deste sentimento intercalando com as situações do dia vivido. O nome Young significa Jovem, que é como ela se sente ainda, apesar de já ter 30 anos. Há no texto interrupções de pensamentos e ações de Bertha durante toda narrativa, como no trecho inicial: [...] “It’s not what I mean, because – Thank you, Mary” she went into the hall. “Is Nurse back?”

A presença constante de repetições como a enfatizar o sentimento ou pensamento de Bertha e seu receio de olhar-se no espelho nos trás a questão do duplo neste conto. A forma como ela se vê no espelho e sua admiração por si mesma, com o espelho frio lhe devolvendo a imagem de uma mulher radiante, quente, com um ar de quem espera algo... que algo divino aconteça e que ela sabe ser inevitável. Bertha nos dá a impressão de estar prestes a ter uma epifania, um momento de grande revelação.

A sua relação de submissão e revolta interna se faz presente na cena em que ela vai ver como está seu bebê e a Nanny relutantemente entrega a menina a Bertha e ainda ralha com ela para não excitar a própria filha, e, antes disso, quando a Babá diz que deixou a bebê puxar a orelha de um cachorro desconhecido, Bertha sente impulsos de perguntar se não teria sido perigosa esta ação da Babá, mas não se atreve. Ela se sente como uma menina pobre diante de uma menina rica e sua linda boneca. Fica claro uma disputa entre a Nanny e a mãe pelo bebê. Bertha volta a se sentir plenamente Feliz com sua bebê e tem esse momento interrompido quando a babá volta dizendo ter um telefonema para ela. Seu marido se atrasaria para o jantar e ela até pensa em dizer a ele o quanto se sente Feliz naquele dia, mas não sabe se expressar.

Em várias partes do texto Bertha se mostra ora revoltada pela sociedade ser idiota e conservadora a ponto de reprimir os desejos das pessoas e ora por ela mesma achar que está ficando histérica (desesperada) com este sentimento extremo.

Bertha organiza duas pirâmides de frutas numa mesa escura, em meio à sala também escura, fazendo com que as frutas pareçam flutuar quando ela se põe a distancia para observar a arrumação. As pirâmides podem simbolizar o trio presente no conto, as frutas simbolizam a prosperidade e fertilidade: tangerinas, laranjas, maçãs, morangos, peras amarelas, uvas brancas e uvas roxas. As maçãs presentes podem estar ligadas ao desejo sexual e é um símbolo de tentação e do pecado original. As uvas aludem à fertilidade e hospitalidade, brancas são símbolo de paz e pureza e a cor roxa está associada à tristeza. As tangerinas e laranjas são frutas acidas e cítricas, podendo estar associadas aos humores dos convidados para jantar e os morangos vermelhos são símbolo de paixão. A tigela azul de brilho estranho e leitoso pode estar relacionada com a forma que Bertha vê sua relação com o marido, através de um brilho leitoso, fosco, sem nitidez.

O jogo de luz está associado ao símbolo de consciência e intensidade afetiva, libido. As sobras são símbolos do desconhecido, do inconsciente de Bertha.

A visão da Pereira no conto é inicialmente uma representação do estado de Bertha: a árvore é o símbolo da vida, e a pereira carregada de flores, no auge de sua beleza é a própria Bertha, que se veste para o jantar nas mesmas cores da sua árvore, verde e branco, coisa que ela faz inconscientemente, pois já escolhera a roupa antes de admirar a pereira através da janela. O farfalhar das saias de Bertha é uma descrição clássica da feminilidade e da mulher. Ascender a lareira (fogo) e o ato de abraçar a almofada demonstram a intensidade de sentimentos e o tapar de olhos é como se não conseguisse suportar tamanha Felicidade.

O desprezo de Harry (marido de Bertha) pela Miss Fulton é um tanto quanto agressivo, mas agrada a esposa. Ela está encantada com Miss Fulton, sua beleza e estranheza de quem esconde algo, não permitindo que ninguém veja mais dela do que ela deseja mostrar. É retratada como uma mulher loira, fria e sem expressão. Sua maneira de se sentar com a cabeça inclinada e sorridente intriga Bertha, pois a leva a crer que Miss Fulton esconde algo e ela deseja saber o que é. Seu nome Pearl significa pérola, símbolo feminino semelhante à prata, que por sua vez é símbolo de Vênus, de pureza e da Lua, por seu brilho prateado e a pronúncia de pearl é parecida com pear (pêra). Para Miss Fulton, a pereira sob a luz da lua é símbolo de tristeza, de algo inalcançável, mas ela e Bertha, ao olharem a pereira, percebem-se no mesmo estado de absoluta Felicidade.

Harry parece ser um marido atencioso, apesar de estar sempre com pressa e sua forma de destratar a Miss Fulton apenas se revela como um jogo de contrários para não levantar suspeitas de seus reais sentimentos e envolvimento com ela.

Temos também o casal Norman Knights, que significa guerreiros Normandicos, Mug (Caneca) está abrindo um teatro e Face (Rosto), sua esposa, é uma decoradora de interiores. O que mais chama a atenção no casal é o casaco de Face: laranja de borda de macacos pretos (símbolo do desprezível do homem, criatura animalesca podendo indicar falsidade). Eddie Warren (warren significa criador de coelhos – símbolo de fertilidade também) é um escritor de poemas, pessoa popular e meio afetada. Ele chega para o jantar falando da lua e há comentários sobre suas meias tão brancas como a própria lua.

Sua visão do gato negro (sombra) e do gato cinza (prata/ depressão) no jardim, com tulipas que expressam o amor perfeito, está ligado ao pressentimento, ao inconsciente e intuição. No caso de Bertha, que sente um arrepio ao ver os dois gatos é como se pressentisse algo de ruim no seu Amor Perfeito, algo se esgueirando como o gato cinza e a sombra do gato negro.

No final, Warren parece querer distrair Bertha para que Harry e Miss Fulton possam conversar a sós, mas ainda assim ela percebe a traição do marido e, ao despedir-se de Warren e Pearl, tem novamente o pensamento no gato preto seguindo o gato cinza.

Bertha é a visão da pereira em seu auge, após a descoberta da traição se sente imóvel, cheia de vida dentro de si, amor e fertilidade, desejando seu marido e decepcionada com ele e consigo. A pronúncia de pear tree (pereira), ao ser repetido por três vezes faz alusão a “par three”, que é um par para três ou uma pereira para três, o triângulo amoroso.

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Blog desenvolvido pelas alunas da UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SANTOS do curso de Letras: Port./Ing. - 6º semestre. Orientado pela Profa. Me. Ermelinda Maura Chezzi, na disciplina de LInguagens e Novas Tecnologias II. Alunas Responsáveis: Agnes Cássia, Fernanda Oliveira, Lucilene Amorim e Mariana Azambuja - O QUARTETO LITERÁRIO.